Saúde, bem-estar e produtividade começam com um bom espaço de trabalho
As empresas de hoje enfrentam um desafio constante pelo aumento de produtividade, engajamento e retenção de seus colaboradores. E isso faz sentido, já que cerca de 90% dos custos de uma empresa são destinados a pagamentos de salários e benefícios para sua equipe, enquanto apenas 10% referem-se a outras despesas como locação do espaço, condomínio, energia, dentre outras. Desta forma, qualquer pequeno ganho em termos de melhoria na saúde, bem-estar e produtividade dos colaboradores terá um grande impacto no resultado da empresa.
Já se sabe, há muito tempo, que os espaços onde trabalhamos, moramos e desenvolvemos nossas atividades do dia a dia têm um enorme impacto em seus ocupantes, isto porque amos cerca de 80% de nosso tempo nesses ambientes fechados. Esta relação entre a qualidade ambiental de uma edificação e a saúde de seus ocupantes é levantada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) desde a década de 1980, com o reconhecimento do termo “Síndrome do Edifício Doente”, que foi definido como uma combinação de sintomas, sem uma causa determinada, que afeta os ocupantes de uma edificação.
Um dos mais relevantes fatos que escancarou a relação entre o espaço edificado e a saúde de seus ocupantes ocorreu em 1976, na Filadélfia (EUA), quando 34 participantes de uma convenção da Legião Americana morreram em decorrência de pneumonia, causada por uma bactéria propagada pelo sistema de ar condicionado do hotel onde se hospedavam.
Um problema, múltiplos fatores
São diversos os fatores que interferem na qualidade ambiental dos espaços de trabalho, como a qualidade do ar, o conforto térmico, lumínico e acústico, bem como aspectos de caráter psicológico destes espaços. Estes fatores atuam de forma conjunta, influenciando diretamente na saúde, no bem-estar e na produtividade de seus ocupantes, além de influenciar na experiência que estes terão ao interagir com o espaço.
A baixa qualidade do ar interior, por exemplo, configura-se entre um dos principais problemas encontrados. Ambientes mal ventilados e sem sistemas adequados de filtragem e distribuição de ar resultam em altas concentrações de poluentes e microrganismos, tanto provenientes do meio externo, como de veículos e indústrias, quanto os advindos dos materiais de construção utilizados na obra.
Entretanto, grande parte dos problemas relacionados à baixa qualidade ambiental são de natureza crônica, ou seja, vão se acumulando lentamente ao longo do tempo e agem de forma oculta, o que dificulta uma correlação direta com suas respectivas causas. Além disso, não é comum por parte das empresas a adoção de procedimentos para coleta, tratamento e sistematização dos dados relativos às licenças médicas e problemas de saúde de seus colaboradores para que estas causas possam ser estabelecidas com maior efetividade.
Absenteísmo x Presenteísmo
Problemas relacionados à baixa qualidade ambiental dos ambientes internos são responsáveis por perdas bilionárias no mundo todo. Estima-se que a taxa de absenteísmo no setor privado nos EUA, por exemplo, é de aproximadamente 3% ao ano, custando às empresas norte-americanas mais de dois mil dólares por cada colaborador. Entretanto, é importante ressaltar que as taxas de absenteísmo por si só não refletem o verdadeiro impacto da baixa qualidade ambiental de uma empresa.
O impacto mais importante refere-se aos problemas de qualidade ambiental que afetam a saúde e a produtividade dos colaboradores efetivamente presentes nos locais de trabalho, o que é conhecido por presenteísmo. A qualidade acústica do ambiente, por exemplo, interfere diretamente no foco, na inteligibilidade e na fadiga dos seus ocupantes, configurando-se como um dos maiores responsáveis pela perda de produtividade em um escritório. É bastante comum ficarmos esgotados após um dia inteiro de reuniões em ambientes ruidosos, onde necessitamos de um esforço extra e constante para o aumento de atenção.
Outro exemplo de fator que influencia na produtividade dos ocupantes são questões relacionadas ao conforto térmico dos usuários, que por muitas vezes competem com seus pares pelo controle de temperatura de seus espaços abertos. Estudos demonstram reduções de desempenho na ordem de até 6% em ambientes com temperaturas mais elevadas e 4% com temperaturas muito baixas.
O o a vistas externas e a uma iluminação natural adequada podem afetar diretamente o bem-estar, a produtividade e até o humor de seus ocupantes. Não é à toa que grande parte dos novos projetos de interiores já estão posicionando as salas de reunião junto ao core do edifício, permitindo assim que os espaços de longa permanência sejam privilegiados em relação ao o às vistas e iluminação natural. Porém, estações de trabalho próximas às fachadas, comumente disputadas dentro de um escritório, podem apresentar sérios problemas relacionados ao desconforto térmico e ofuscamento de seus usuários, dependendo da forma e materiais empregados no sistema de fachada do edifício em questão.
Certificações: Foco no usuário
Os modelos de certificações de sustentabilidade vêm cada vez mais levando em conta as questões de qualidade do ambiente construído, seja evoluindo os requisitos de modelos já existentes no mercado, seja criando modelos de certificação focados exclusivamente na saúde e no bem-estar de seus ocupantes.
Um exemplo de modelo criado nos últimos anos foi a certificação Well Building Standart, que avalia exclusivamente as várias condições do ambiente e da empresa que afetam a saúde, o bem-estar e a produtividade de seus colaboradores. Neste modelo de certificação, são consideradas as questões relacionadas ao local de trabalho, como a qualidade do ar e da água, a iluminação e as condições de conforto dos ambientes, bem como questões relacionadas às políticas da empresa em relação à alimentação e aos incentivos às práticas de atividades físicas de seus ocupantes.
Outro ponto importante que é levado em conta nesse novo modelo de certificação está relacionado às questões ligadas à saúde mental dos ocupantes, como a adoção de estratégias de biofilia no local de trabalho, que consiste em incorporar os elementos da natureza no projeto do ambiente, ajudando, assim, no bem-estar e na redução de estresse de seus colaboradores.
Case
No início de 2019, o Centro de Tecnologia de Edificações (CTE) mudou-se para um novo espaço de trabalho, com foco nas questões relacionadas à sustentabilidade, à eficiência operacional e à inovação. Fizemos questão de desenvolver um escritório altamente eficiente em relação à utilização de recursos como água e energia, com o uso de equipamentos economizadores, bem como de sistemas para gerenciamento dos consumos ao longo de tempo. Além disso, focamos fortemente nas questões relativas à qualidade do ambiente interior e à inovação que pudessem trazer um espaço mais saudável e produtivo para a nossa equipe.
Aplicamos uma série de cuidados no projeto e na obra em relação à qualidade do ar do escritório. Escolhemos materiais com baixos níveis de Compostos Orgânicos Voláteis (COVs), com tintas, adesivos, selantes e vernizes, bem como instalamos um sistema ativo para tratamento do ar interior. Este sistema atua por meio de ionização radiante catalítica (IRC) para gerar oxidantes naturais capazes de quebrar a cadeias de COVs e reduzir contaminações microbiológicas no ar e nas superfícies do escritório, combatendo fungos, vírus e bactérias. O sistema de condicionamento de ar conta, ainda, com controles individualizados para cada evaporadora, com possibilidade de direcionamento do fluxo de ar para cada lado, possibilitando um maior controle por parte dos usuários.
Em relação ao aproveitamento da iluminação externa, instalamos persianas que funcionam automaticamente, controlando a quantidade de iluminação natural nos momentos adequados e a radiação solar direta e o ofuscamento no espaço. Para melhoria dos aspectos psicológicos do espaço, utilizamos diversas estratégias de biofilia, com materiais naturais, como madeiras brasileiras certificadas e paisagismo com espécies nativas nas áreas internas e externas do escritório.
O projeto de escritório seguiu uma série de premissas de sustentabilidade e encontra-se hoje em processo de certificação LEED CI, destinada à projetos internos de edifícios comerciais.
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