Buildings foi convidada para compor a mesa de discussão e trouxe contribuições sobre a nova dinâmica do mercado de escritórios.
Foi realizado ontem (14/09), na parte da manhã no edifício Pinheiros One (São Paulo), o evento Barzel Meetings. O encontro, presencial e fechado para corretores do mercado imobiliário corporativo, trouxe como tema “O futuro do mercado de escritórios no pós-pandemia”.
A mesa de discussão foi composta por Nessim Sarfati, sócio fundador da Barzel Properties, Sérgio Athié, sócio fundador da Athié Wohnrath e Fernando Didziakas, sócio diretor da Buildings. A mediação foi a cargo de Gustavo Melo, Head de Marketing, também da Barzel.
Como será a retomada e o futuro dos escritórios no pós-pandemia que se aproxima e quais as expectativas e possíveis perspectivas para 2022?
O cenário pandêmico está chegando ao fim
Há mais de um ano e meio vivendo intensamente o home office ou o modelo híbrido de trabalho (nos momentos de flexibilizações liberadas pelo Governo do Estado e autoridades competentes), as empresas começaram, mais recentemente, a retomar as atividades presenciais nos escritórios.
Mesmo aquelas mais despojadas enfrentaram dificuldades de adaptação no início da pandemia. E outras organizações que ainda não tinham interesse ou predisposição para o home office, tiveram de se ajustar rapidamente dado o “toque de recolher”. O mercado sobreviveu, se mostrou resiliente e começa a tomar fôlego neste segundo semestre.
Como já dito em conteúdos anteriores, a crise sanitária também proporcionou oportunidades, aprendizados e mudanças positivas e (definitivas) que o mercado imobiliário já não conseguirá mais deixar para trás.

Sérgio Athié, da Athié Wohnrath.
Sérgio Athié destaca que houve dificuldades de adaptação no início da crise, e isso desencadeou uma mudança no comportamento do mercado.
“A pandemia trouxe um legado de flexibilidade, novos horários de trabalho, autonomia para os colaboradores, mais confiança nas equipes. O gestor não sabia se o funcionário havia ligado o computador ou não, por isso, entregar o projeto no prazo e cumprir a meta se tornaram mais importantes. Depois de todo esse tempo em casa, agora vemos funcionários perguntando e/ou pedindo para retornar ao escritório”, destacou.
Ele também ressaltou que o ambiente de casa não aproxima as pessoas e isso faz com que a conexão entre elas se perca. “Por isso, o ambiente corporativo é tão importante”.

Fernando Didziakas, sócio diretor da Buildings.
Fernando Didziakas endossa que o maior legado da pandemia foi a flexibilidade de trabalho e das relações interpessoais, em vários aspectos.
“A Buildings, por exemplo, não adotava o modelo home office antes da pandemia, mas se ajustou rapidamente a ele. Trabalhar de qualquer lugar é uma vantagem e acredito que parte da nossa equipe de desenvolvimento, por exemplo, gosta de usar bermuda e camiseta do seu game favorito durante o trabalho em casa. E para eles funciona bem assim. Por outro lado, a área de negócios ou marketing já demanda um maior contato pessoal, precisa de uma interação presencial para desenvolver melhor suas atividades e propor soluções”.
Didziakas esclarece que aquele “movimento” lá atrás que assustou o mercado – das empresas devolverem seus espaços visando o trabalho em casa -, já não é bem assim.
“Algumas empresas que devolveram agora estão retomando suas atividades presenciais. Mesmo que continuem com o modelo híbrido – e esta já é uma tendência sem volta – vão continuar precisando de um espaço físico para seguir com seus projetos e negócios. Elas podem não precisar mais de 10 mil m², mas com certeza terão cerca de 7 mil m². Não ficarão sem escritório”.
Nessim Sarfati destacou a importância de se manter a cultura empresarial viva, presando pelas relações no ambiente corporativo.
“O escritório é necessário porque todos nós desejamos pertencer a algum lugar, grupo, equipe, história. E o espaço de trabalho promove essa socialização e aproximação. Não há como manter isso se as pessoas não se encontrarem”.
Mudanças estruturais que o mercado abraçou
Quanto às mudanças relacionadas aos novos layouts e readequações que as empresas tiveram de adotar, Sérgio Athié enfatiza:
“Algumas empresas já estavam mudando seus espaços e layouts antes da pandemia, o que esse momento proporcionou foi uma aceleração. E isso a nível geral. Hoje não há mais mesas dedicadas, porta-retratos e objetos pessoais. As áreas são colaborativas, as tarefas coletivas nos escritórios”.
Ele ainda menciona que a experiência da reunião híbrida é ruim. “Se é online, todas as telas devem estar ligadas. Se houver alguém com a câmera desligada, é como se ela não estivesse inclusa no Zoom”.
Hoje já existe um consenso do mercado de que o bem-estar do colaborador, dentro do ambiente corporativo, ganhou grande destaque. A experiência agora precisa ser “prazerosa”, proporcionar um ambiente engajador, com uma jornada de trabalho interessante, com espaços de socialização. A biofilia também está sendo considerada nas novas reestruturações. Os prédios que possuem terraço já estão sendo procurados.
Sérgio Athié destacou que até mesmo a alimentação se tornou tema do momento. “Alguns funcionários ficaram acostumados com a comida caseira, por ser mais saudável, e não querem mais comer em restaurantes. Querem levar sua própria comida. Isso significa que precisamos pensar nesse espaço também”.
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Crises que o mercado imobiliário enfrentou
Sobre as crises e oscilações do mercado, Fernando Didziakas apresentou um gráfico com uma análise histórica, explicando sobre as oscilações da taxa de vacância e absorção líquida – tanto nas crises anteriores quanto agora.
“Em 2008 o mercado viveu uma crise. Já entre 2015 e 2017 houve um excesso de construções no mesmo período, por isso, dizemos que foi uma crise imobiliária. Mas o mercado estava respondendo bem durante 2019, estava crescendo. O que ocorreu agora é bem diferente. Se não fosse a pandemia, fatalmente a taxa de vacância estaria hoje entre 5% e 10%”, analisou.
A pandemia mudou completamente o cenário do mercado e, por isso, os espaços comerciais retrocederam em metros quadrados ocupados – por isso a absorção líquida foi negativa. Os dados apresentados por Didziakas podem ser consultados na Plataforma Buildings CRE Tool. Para saber mais, clique aqui.
“Com a retomada que estamos acompanhando agora, o volume de locações seria maior, quase como 2019. Mas a entrega de novos empreendimentos fez a vacância aumentar outra vez”, disse.
Athié relembrou que algumas empresas devolveram por necessidades financeiras e não, exatamente, por causa da crise.
“Elas já tinham dívidas de um outro momento e com a pandemia, optaram por devolver seus espaços. Mas eu aconselhei para a grande maioria delas que segurassem mais um pouco para devolver ou reduzir seus escritórios, porque ainda precisávamos entender bem o cenário”.

Nessim Sarfati, sócio fundador da Barzel Properties.
Nessim também relembrou a diferença da crise de anos atrás com esta gerada pela pandemia.
“Em 2010 houve muitas construções de empreendimentos em São Paulo, apesar das restrições e burocracias que existiam na cidade. O que foi até bom, porque do contrário, o mercado teria sofrido ainda mais. A Prefeitura do Rio de Janeiro, por exemplo, até incentivou a construção de novos prédios naquele momento. Eu acho que com esse aquecimento que virá no próximo ano, em 2023 vão faltar espaços para as empresas alugarem”, avaliou.
Ele ainda ressaltou que “empresas grandes que ocupam muito espaço estão aguardando para voltar suas atividades presenciais, mas as empresas menores já estão voltando a todo vapor”.
Confira abaixo algumas fotos do evento:
Otimismo para 2022
A exemplo de empresas que estão crescendo ou expandindo seus negócios, a chinesa Shopee alugou escritórios no Birmann 32 na Faria Lima e no Thera Corporate, do portfólio da Barzel. Outras empresas de tecnologia, como Google e Facebook, também ampliaram seus espaços em plena crise. É interessante destacar que elas já usavam o modelo home office há anos (bem antes da pandemia) e mesmo assim estão alugando espaços enormes, para novos projetos e expansões. Empresas de consultoria também estão indo por esse caminho.
Didziakas destacou que empresas crescem e expandem seus negócios e isso é uma dinâmica normal do mercado.
“Este é o cerne de qualquer negócio ou empresa. Além disso, outras mudaram de prédio ou região e ampliaram seus escritórios. E ainda há aquelas novas que estão sendo inseridas ao mercado a cada ano. Quem era a WeWork há poucos anos? Hoje eles ocupam cerca de 260 mil m² de escritórios”.
Athié destaca que o importante é reduzir com racionalidade.
“As pessoas ainda estão girando a chave desse novo modelo, novo formato. Acho que a classe profissional amadureceu, e a flexibilidade fez um funcionário que morava em outro estado ou país ficar perto e de fácil o. Os profissionais mais capacitados ainda são difíceis de encontrar”.
Os participantes também responderam algumas dúvidas dos convidados, sobre questões técnicas e estruturais, crescimento das empresas, área boma e privativa, entre outras.
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