O custo da construção sustentável

Mas, afinal, um green building é realmente mais caro do que uma edificação tradicional?

O setor da construção civil é um dos que mais contribuem com a poluição e as emissões de gases de efeito estufa, além de ser, também, o que mais consome recursos naturais em suas atividades.

Segundo o Programa das Nações Unidas para o Ambiente, os edifícios, além de produzirem 40% do volume total de resíduos sólidos, são responsáveis por um terço do consumo total de energia e por 12% de toda água doce do planeta.

Não é à toa, portanto, que a construção sustentável ganhou impulso mundial nos últimos anos e hoje desempenha um papel significativo nesta questão da minimização de impactos ambientais, principalmente com a crescente adoção das certificações dos edifícios, que os classificam de acordo com seu nível de desempenho ambiental.

Embora indicadores demonstrem que os chamados “prédios verdes” podem superar os convencionais em relação a menores impactos ambientais e reduções de consumo de recursos, e o próprio mercado de edificações comerciais de escritórios e galpões tenha adotado as certificações praticamente como quesito essencial de competitividade nos últimos anos, o investimento para obtenção dessas certificações é ainda questionado. Ou seja, a questão do “alto custo” para projetos certificados tornou-se tanto um mito quanto um desafio para os proprietários e investidores que desejam optar por este caminho da sustentabilidade.

Várias pesquisas internacionais apontam que realmente existe um acréscimo de custo no projeto de um edifício que busca uma certificação. Não há, no entanto, um consenso ou uma porcentagem exata em relação a esse aumento, sendo que alguns estudos até apontam que edifícios certificados custam menos que os tradicionais.

No Brasil, não temos estudos sólidos sobre este tema, mas a experiência mostra que a obtenção das certificações LEED, a mais adotada no País, exige investimentos iniciais que elevam o custo inicial previsto para a grande maioria dos empreendimentos. Essa elevação está relacionada tanto aos custos de construção quanto aos adicionais das taxas de certificação e contração de consultorias especializadas em sustentabilidade de edificações e certificações ambientais.

Mas a diferença de custo é significativa?

Segundo o GBC Brasil, entidade responsável pela disseminação da sustentabilidade no mercado da construção
nacional, a obtenção da certificação LEED pode acrescer entre 0% e 6% o custo inicial da obra. Esta margem de acréscimo é influenciada por diversas variáveis, principalmente levando-se em consideração os requisitos das certificações ambientais do edifício, que implicam em adoção de tecnologias e/ou alterações em projetos necessárias para atendimento de tais requisitos. A certificação LEED, por exemplo, possui requisitos mínimos obrigatórios e uma escala com quatro níveis de certificação (Certificado, Prata, Ouro e Platina), que serão atingidos de acordo a somatória de pontos obtidos com base nas estratégias sustentáveis implantadas no empreendimento. O investimento para obtenção da certificação, portanto, tende a ser maior quanto maior for o nível de certificação pretendido.

Ao longo dos anos, a disseminação das edificações sustentáveis e o desenvolvimento do mercado imobiliário
trouxeram uma redução significativa dos custos de implantação de novas tecnologias, tornando-as íveis
e padrão para novas edificações e, consequentemente, reduzindo o investimento para obtenção das certificações. Este movimento pode ser observado no Gráfico 1, que mostra o aumento do percentual de projetos, nos últimos anos, que obtiveram certificações nos níveis Ouro e Platinum, os mais altos e com requisitos mais exigentes na escala LEED.

O próprio desenvolvimento do mercado e o o mais amplo às novas tecnologias, contudo, exigem que os referenciais de certificações se atualizem constantemente, de modo a manter sua missão de promover a construção de edificações cada vez mais eficientes. É natural, neste sentido, que obtenção de certificação se torne cada vez mais complexa e, por isso, haja necessidade de novos investimentos. A nova versão 4.0 do LEED, por exemplo, incluiu exigências mais rígidas, fazendo com que as estratégias já adotadas como padrão não sejam mais sufi cientes para obtenção das certificações, o que elevou, pelo menos em um primeiro momento, o investimento para obtenção de cada nível de certificação, uma vez que novas estratégias e tecnologias precisam ser implementadas.

Outra variável importante que precisa ser considerada nestes custos é a linha de base de investimento prevista para o projeto antes da certificação LEED, base esta diretamente relacionada ao padrão do imóvel e/ou às premissas previstas originalmente para o empreendimento. Empreendimentos com lajes corporativas de alto padrão, por exemplo, tendem a prever tecnologias e características de projeto que exigem menos intervenções e, portanto, com um aporte menor de investimento. Já empreendimentos menores e com menos tecnologia embarcada exigem maior implantação de estratégias sustentáveis, que acabam por elevar significativamente o investimento necessário para obtenção da certificação.

Como boa parte do acréscimo no custo de construção decorre da necessidade das alterações nas especificações das tecnologias a serem embarcadas no edifício, a variação do custo vai depender, também, da eficiência na elaboração dos projetos. Neste contexto, o chamado projeto integrativo é fator determinante para minimizar este impacto.

O projeto integrativo, é bom ressaltar, vai além das listas de intervenções isoladas que cada disciplina deve promover em seus projetos para atendimento aos requisitos de certificação. Ele incentiva a integração durante os estágios iniciais do projeto, esclarecendo as aspirações do proprietário, as metas de desempenho e as necessidades do projeto para que as estratégias que serão adotadas se tornem mais eficazes. Compreendendo e agindo nas inter-relações entre todas as disciplinas, as equipes de projeto descobrirão oportunidades únicas de design inovador, maior desempenho e maiores benefícios ambientais, ao mesmo tempo em que possibilitarão a redução de investimentos desnecessários e um custo de construção menor. Esta dinâmica, quando aplicada durante o processo de certificação, pode até reduzir o custo previsto inicialmente, uma vez que o processo integrativo pode otimizar os projetos como um todo, e não somente as intervenções necessárias para a certificação.

Outras variáveis, como localização, clima, tipologia, uso final e população, podem também influenciar na complexidade de atendimento aos requisitos de certificação, ou até mesmo inviabilizar a obtenção de alguns créditos, exigindo mais investimento em tecnologia para obtenção de pontos em requisitos mais aplicáveis ao empreendimento, como, por exemplo, aqueles relacionados à eficiência energética.

Desta forma, apesar de ser extremamente complexo determinar o acréscimo de custo para obtenção das certificações, é importante considerar que o processo de tomada de decisão deve considerar uma avaliação ampla dos aspectos que possam influenciar no custo final, detalhando o custo de cada estratégia e promovendo uma forte integração entre as disciplinas de projetos, de forma a permitir que os custos sejam minimizados, ao mesmo tempo em que os benefícios sejam maximizados.

Por fim, é importante ressaltar que as certificações são desenhadas apenas com o objetivo de nortear o mercado quanto aos principais requisitos para um empreendimento de alto desempenho ambiental, que efetivamente contribua para redução dos seus impactos e, ao mesmo tempo, melhore a qualidade de vida de seus ocupantes. Assim sendo, o verdadeiro green building é aquele em que a certificação será consequência de um processo sistêmico, que pensa a sustentabilidade em todo seu ciclo de vida: concepção, projeto, execução, operação e desmobilização.

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