De volta ao novo escritório: o que realmente mudou?

Buildings foi convidada para compor a mesa de discussão do evento Barzel Meetings; Fernando Didziakas trouxe dados do mercado imobiliário corporativo, além de sua visão quanto à nova dinâmica dos escritórios no pós-pandemia.

Foi realizado na última quarta-feira (24/08), no edifício Pinheiros One (São Paulo), o evento Barzel Meetings. O encontro presencial estava de casa cheia e trouxe como tema “A volta ao bom e novo escritório”.

A mesa de discussão foi composta por Nessim Sarfati, sócio-fundador da Barzel Properties, Clarisse Etcheverry, sócia-fundadora da EREA, Fernando Didziakas, sócio-diretor da Buildings e Fernanda Consorte, economista-chefe do Banco Ourinvest. A mediação ficou a cargo de Bruno Turaça, Portfolio Asset Director, também da Barzel.

Quase 30 meses após o início da pandemia – que fez as empresas mudarem sua dinâmica de trabalho e os funcionários migrarem para suas casas – como será de fato a retomada dos escritórios neste momento pós-pandemia?

A proposta é um novo normal muito diferente do que esperávamos lá atrás ou mais parecido com o velho normal que já conhecíamos?

Pandemia mais leve e cenário de crise chegando ao fim

Desde que as medidas de distanciamento social foram flexibilizadas, os colaboradores voltaram às atividades presenciais nos escritórios. Com isso, o trânsito já é novamente sentido nas grandes avenidas e marginais de São Paulo. Como consequência desse retorno gradual, a rotina de agora já está mais próxima do que era antes da pandemia.

A primeira fala de Fernando Didziakas, sócio-diretor da Buildings, foi traçando um panorama do cenário pré e agora pós-pandêmico.

“Como já trouxemos em conteúdos e dados recentes, o mercado imobiliário sofreu menos do que a gente viu nas notícias veiculadas. Apesar de se falar muito sobre as empresas estarem devolvendo seus escritórios, isso na verdade não foi bem assim”, explica.

Fernando Didziakas, sócio-diretor da Buildings (Foto: Divulgação Barzel)

Didziakas esclarece que houve a devolução de escritórios, assim como a redução de alguns espaços em regiões primárias.

Contudo, segundo ele, quando se olha para o aumento da taxa de vacância no universo de escritórios, ela não ocorreu apenas por causa da crise trazida pela pandemia. 

A taxa de vacância está, de fato, mais alta que antes da crise sanitária, mas isso ocorreu concomitantemente a entregas de novos empreendimentos corporativos na cidade paulista.

“O total de metros quadrados devolvidos foi cerca de 1,5 milhão de m². É muito? Sim, é. Mas quando consideramos o número de absorções que também aconteceu no período, o impacto real da pandemia nesse momento de crise foi de 500 mil m². Em um mercado de 11 milhões de m², o valor não é tão grande assim”.

O empresário explicou que as grandes empresas, de fato, reduziram mais. Essa percepção do setor não está errada.

“As empresas com escritórios menores, devolveram apenas 3% na média. As grandes reduziram de forma mais expressiva, cerca de 15%. E as empresas que tinham ocupações menores, aproveitaram o momento e cresceram seus espaços”, pontuou.

Os desafios econômicos atuais

Fernanda Consorte, do Banco Ourinvest (Foto: Divulgação Barzel)

Fernanda Consorte, do Banco Ourinvest, destacou que o pior cenário para qualquer mercado é estar diante de uma economia incerta.

“Com a incerteza que a pandemia trouxe, é natural que a confiança de alguns setores tenha ficado mais frágil e por isso, tanto as empresas quanto os consumidores tendem a pisar no freio”.

Os desafios da retomada do mercado em razão da instabilidade da economia e do aumento dos juros, tanto no Brasil quanto no mundo, é um fator de atenção.

Ela destaca que no início da pandemia, a taxa básica de juros [Selic] estava em apenas 2%. E de lá para cá, vimos muitas mudanças.

“A Selic nunca tinha sido tão baixa na história. Do final de 2021 para cá, tem subido muito e a previsão é ficar em quase 14% até o final do ano”, explicou.

Por outro lado, a economista destacou ter ficado positivamente surpresa ao constatar a rapidez com que os empresários responderam à crise. Na sua visão, eles se ajustaram e encontraram outras possíveis alternativas de investimentos. Citou o setor de tecnologia como exemplo de expansão, e o da construção civil – que soube investir e enxergar oportunidades.

“Acredito que esse retorno não foi fácil, mas foi mais rápido do que imaginei. Embora o crescimento ainda seja baixo, o mercado está reagindo”.

Mercado logístico segue aquecido e usa a tecnologia a seu favor

Clarisse Etcheverry, sócia-fundadora da EREA, destacou que o setor logístico, fortemente aquecido pelo e-commerce nos últimos meses, adotou características próprias e por isso, segue a os largos.

“Quando pensamos no setor logístico, destaco que a velocidade de reação das empresas foi fundamental para os grandes tomadores de espaços nos raios 30km e 60km de São Paulo. Os investimentos no setor ajudaram na absorção recorde do mercado. E mesmo em um momento de incertezas, muitas empresas tomaram decisões fortes e investiram”.

Clarisse Etcheverry, sócia-fundadora da EREA (Foto: Divulgação Barzel)

Clarisse enfatizou que a velocidade de resposta das empresas está atrelada à tecnologia que elas oferecem.

“Mesmo sendo empresas de e-commerce, de venda de produtos, elas se veem e se vendem como empresas de tecnologia e isso faz uma grande diferença na ação efetiva de trabalho. E essa nova onda de ocupação gera uma nova necessidade para o real estate. Novos investimentos virão”, frisou.

Além disso, a especialista ressaltou a diferença entre ter um galpão logístico em Cajamar – a Faria Lima dos galpões – e dentro da cidade de São Paulo.

Ela disse que no raio 30km de São Paulo já está tudo alugado. Entretanto, o setor logístico precisa ocupar grandes cidades, em outros estados inclusive.

“Uma abertura para isso é a chegada do 5G que agora está em mais capitais do Brasil. A taxa de vacância tão baixa a nível Brasil mostra o quanto o setor logístico segue forte. E com essa tecnologia chegando, ele tem mais oportunidades a oferecer”.

Um dos desafios inerentes ao momento é a parte inflacionária. Outro percalço é o custo da construção. Exatamente por isso investidores terão de ser cautelosos e estar de olho no custo de oportunidade.

Segundo Clarice, especialistas falam para focar no tenent e no built-to-sult que são tendências.

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A força do mercado de escritórios em São Paulo; dados do 2TRI de 2022

Pertencimento: valor se cria no dia a dia no escritório

Foto: Divulgação Barzel

Nessim Sarfati, sócio-fundador da Barzel Properties, destacou que tem havido algumas mudanças nos escritórios. Contudo, ele explicou que isso tem ocorrido mais para deixar os espaços mais íveis aos colaboradores. Os espaços de trabalho nos grandes prédios corporativos de São Paulo já eram bons antes da pandemia. Poucos ajustes foram necessários.

“A exemplo disso, podemos citar uma área para refeitório. Os colaboradores podem levar comida de casa ou pedir por algum aplicativo e comer lá. Isso não é uma obrigatoriedade para as empresas, mas elas têm promovido essas mudanças para deixar os escritórios ainda melhores para seus funcionários. E isso é algo bom para todos”.

Sobre os imóveis vagos para locação em São Paulo, o empresário é otimista e relembra que a história de São Paulo e do Rio de Janeiro são bem diferentes.

“Em São Paulo vai alugar de um jeito ou de outro. Não podemos esquecer que não existe mais espaço para novas construções, a exemplo da Faria Lima. Então a vacância dos imóveis vagos é uma  questão de tempo. E isso não é porque os investidores não querem construir novos prédios. Isso veio da Prefeitura. Diferente do Rio de Janeiro, que a Prefeitura incentivou a construção por um bom período e hoje a vacância é alta, em São Paulo aconteceu o contrário. A Prefeitura desincentivou a construção e hoje a cidade sofre um pouco com a falta de espaços”.

Fernando Didziakas também apontou diferenças do mercado de escritórios nas duas maiores cidades do país.

“De fato, no Rio de Janeiro houve um grande incentivo para a construção de novos empreendimentos nos últimos anos. Mas gerou uma vacância alta nos últimos anos. Vale destacar que o perfil de São Paulo e Rio de Janeiro também são bem diferentes. São Paulo é uma cidade mais plural e todos os setores e empresas se movimentaram, ampliando, reformando, aproveitando custos menores aqui ou ali. Ela não depende especificamente de poucos setores, como acontece no Rio. Claro que as empresas de tecnologia estão sempre se destacando, mas ressalto sempre que a chegada de novas empresas ao mercado também faz a cidade se movimentar e ter mais atrativos. Novas empresas tomam novos espaços e nós precisamos dar atenção a isso”.

A gigante do e-commerce de Taiwan – a Shopee – é bom exemplo disso. Diferente de 2020 em que ninguém conhecia a empresa, em 2021 eles começaram a se movimentar e alugar. Hoje, a empresa já tem uma área muito grande no coração de São Paulo.

“E agora eles ocupam bons escritórios em regiões consolidadas da cidade. Isso é um claro exemplo de empresa nova com forte ocupação de escritórios“.

Novos investimentos no setor de escritórios

Didziakas sinalizou que São Paulo registra a menor atividade construtiva histórica. Além disso, o retrofit é uma tendência para o mercado de escritórios.

“As empresas estão de olho no retrofit dos prédios justamente para fazer essa migração e aproveitar um novo ambiente, com mais tecnologia, sustentabilidade, ibilidade e melhorias estruturais. Se a cidade não tem espaço para novas construções efetivamente, tem por outro lado, prédios sendo reformados e ficando com cara de novo. Isso gera competividade. E isso, claro, atende uma nova demanda de empresas”.

Para Sarfati, o home office tem seu valor e importância, mas nunca substituirá o trabalho dentro do escritório. Ele relembra que no início da pandemia, ninguém sabia o que era o aplicativo Zoom. Em poucas semanas, todos estavam utilizando-o para trabalhar.

“Em casa as pessoas têm mais conforto, liberdade, mas, ao mesmo tempo, também acontece de vida profissional e pessoal se misturarem. Acaba sendo incômodo a criança gritando ao fundo, o interfone tocando, o cachorro pulando em cima da pessoa na hora da reunião”.

Por outro lado, no escritório existe conectividade, senso de pertencimento. O empresário ressalta que todos os colaboradores têm seu lugar no escritório, ainda que possam também trabalhar de casa.

“Eu gosto da máxima que diz ‘Vá ao escritório não pela empresa, mas por você'”, finaliza Sarfati.

Confira abaixo algumas fotos do encontro:

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