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Compartilhamento de espaços

Como o coworking está mudando o mercado imobiliário corporativo e o trabalho de empresas de diversos setores

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Por Jonas Libardi,
Supervisor de Pesquisa
de Escritórios da Buildings

Pilhas e pilhas de papel, grandes armários de arquivos e documentos, linhas de telefonia fixa, salas fechadas e empresas setorizadas. Essa era a realidade de praticamente toda e qualquer empresa anos atrás. E foi justamente a tecnologia que mudou isso, trocando esses antigos termos por outros, como o remoto, servidor em nuvem, telefonia móvel, digitalização de documentos, home office e tantos outros que já fazem parte do dia a dia de todas as empresas, de qualquer setor.

Há quem diga que a tecnologia prejudica as relações humanas, mas no mundo corporativo, não é isso o que vemos. Vamos entender melhor: você tem uma ideia que resulta em uma startup. Com o tempo, você nota que o seu home office está fi cando pequeno e inadequado, pois você precisa de outras pessoas para trabalhar com você, precisa de um espaço adequado para atender clientes e parceiros. Sim, isso ficou claro, mas o que você vai fazer se a sua startup ainda não é rentável e se ainda não é uma certeza de lucro? É nesse momento que você descobre que pode se instalar em um espaço de coworking. Trata-se de uma opção que vai caber no sou bolso – já que você vai precisar pagar apenas pelo tempo que usar -, que possui toda a estrutura que você precisa e, mais do que isso, vai te permitir a interação direta com outros profissionais e empresas, bem como com diversos mercados, o que tende a acelerar o progresso do seu negócio!

Do que você precisa?

O modelo citado anteriormente é apenas um dos diversos exemplos. Renato Magnanini Auriemo, sócio-diretor da CO.W. Coworking Space, explica que a empresa oferece vários modelos de contrato, que atendem desde o profissional liberal, que pode ir poucas vezes ao CO.W., até espaços grandes para até 50, 100 pessoas, para atender empresas inteiras ou times remotos de grandes corporações. Ele explica que além desta flexibilidade, estamos falando de escritórios que possuem toda infraestrutura pronta para o trabalho, como mobiliário, recepção, internet, áreas de descanso e convivência, salas de reunião, etc. Ou seja, basta chegar e trabalhar.

Além de startups e profissionais autônomos, esses espaços são utilizados por grandes empresas que precisam de expansão ou que precisam realizar um projeto específico, com prazo determinado. Multinacionais usam para entender os mercados locais, antes de se instalarem em uma sede fixa. Segundo Ernisio Martines Dias, presidente da Associação Nacional de Coworking e Escritórios Virtuais (ANCEV), muitas empresas entendem os espaços para coworking como uma oportunidade de manter o foco no core bussiness, em momentos requerem tal direcionamento. Ele explica que se existe alguma dificuldade em se atingir uma meta, as alternativas são procuradas. No caso, a dificuldade é o custo em ter o escritório próprio, principalmente após o surgimento da bolha imobiliária.

Mudanças

O compartilhamento de espaços de trabalho não é uma novidade. Certamente, a diferença é a forma como ele evoluiu. Antigamente, principalmente no mercado de serviços e empresas terceirizadoras, esse tipo de divisão já era observada. Com a evolução da tecnologia, isso foi crescendo e ando a ser não somente um rateio de espaço, mas também um fator que favorece a flexibilidade, a produtividade e a qualidade de vida.

Suponhamos um cenário que, hoje, já é uma realidade bem funcional: certa empresa tem todas as suas informações centralizadas em um servidor cloud (nuvem), cujo o dos colaboradores pode ser feito remotamente, por meio de um que dá o somente às informações que eles precisam. Isso, junto a um sistema de telefonia celular, tecnologia VoIP ou de direcionamento de chamados (de linha fixa para celular, por exemplo), cria uma possibilidade de uma empresa que não necessita de uma sede fixa. Com um pouco de logística, as definições de locação, de home office e de coworking ficam mais claras.

Contudo, Ernisio alega que os espaços de coworking acabam oferecendo algo que, na realidade, é o grande diferencial: o conceito de interação. Uma empresa que opta por ter colaboradores ou equipes específicas trabalhando fora de uma sede, precisa que todos estejam conectados e sempre em contato, e o coworking permite isso de uma forma muito mais eficiente. Em um segundo momento, a palavra certa é networking. Em espaço compartilhado, é possível ter contato com diversos profissionais liberais e de outras empresas, permitindo a criação de parcerias e geração fácil de novos negócios. Isso sem mencionar, claro, o aprendizado que pode ser desenrolado por meio da troca de conhecimentos e experiências.

Facilidades

Laryssa Borges, que é Communit Team na empresa WeWork, que disponibiliza espaços de coworking, lembra que o crescimento do modelo teve forte impulso entre os mais diversos tipos e portes de empresas justamente pela facilidade que oferece. Uma empresa que aluga um espaço desses não precisa se preocupar com facilities e nem com grandes dificuldades burocráticas, que por fim acabam gerando um gasto de tempo.

Mas ao que interessa: quando o coworking a a ser mais interessante do ponto de vista financeiro do que uma locação fixa?
Obviamente, a economia de tempo acaba refletindo na parte financeira, mas não é somente isso. Laryssa explica que, ao contabilizar os custos de aluguel, condomínio, internet, energia elétrica, mobiliário, cafezinho, limpeza e manutenção, entre outros, o coworking custa cerca de 30% a menos do que uma locação fixa.

Ernisio, da ANCEV, lembra que essa conta pode ter alterações, obviamente. Se o coworking é utilizado pela empresa de forma avulsa ou virtual, o custo pode ser 70% mais baixo. Mas ele explica que mesmo na utilização full time existe esse benefício. Ele lembra, ainda, que ao chegar a quatro ocupantes diários, o valor pode chegar próximo ao convencional, mas que as vantagens operacionais continuam existindo, como a falta de preocupações com assuntos que não são do core bussines. Isso sem mencionar que a empresa pode ter a certeza de estar alocando suas equipes em um espaço que está sempre moderno e pronto para uso.

Toda essa movimentação trouxe para o Brasil empresas especializadas na oferta desses espaços, como a WeWork e a CO.W.
Coworking Space. Mas como essa potencialização desses espaços mudou o mercado imobiliário corporativo?Tendencias_Coworking

Mercado imobiliário corporativo

Segundo Ernisio, em 2016 o Brasil contabilizou 700 espaços de coworking e em 2017 devem chegar a mil. Na cidade de São Paulo, são 140 espaços. Ele explica, ainda, que a crise retraiu um pouco esse crescimento, o que indica que a retomada da economia deve ser benéfica para o aumento de coworkings. Mas ele alerta que a mortalidade no mercado também é uma realidade, ao explicar que muitos donos de imóveis, no desespero de ocupa-los, acabam abrindo coworkings sem planejamento.

A quantidade de espaços compartilhados ainda não é significativamente alta para influenciar de uma forma considerável no mercado imobiliário corporativo, ainda que não seja algo que podemos ignorar. Basta entender que alguns incorporadores já estão colocando em seus projetos de prédios comerciais lajes ou espaços destinados ao modelo. Para Ernisio, trata-se não somente de uma visualização do sucesso, mas de uma valorização dos empreendimentos. Ele exemplifica dizendo que as empresas que alugam lajes nesses prédios podem ocupar uma área menor, sem uma sala de reuniões, e alugar o espaço quando precisam, eliminando uma sala que pode ar muito tempo sem uso.

Entende-se também, que em uma época de vacância mais alta do que o normal, o coworking pode ajudar na absorção de espaços e, de quebra, abrir oportunidade de que empresas menores toquem o seu trabalho, girando a roda da economia em um movimento de positivo de bola de neve. Ainda não é possível entender claramente os impactos do coworking no mercado imobiliário corporativo, mas dificilmente estamos falando de um prejuízo. A qualidade desses espaços é um benefício, uma vez que existem empresas que são responsáveis pela manutenção e modernização. Ponto positivo para os empreendimentos. No mais, são empresas que têm grande potencial de ocupação, ou seja, entram para a lista de inquilinos ou de locadores.

A oferta de espaços para empresas que a principio não têm investimento para alugar um escritório fixo, ajuda na maior absorção nos empreendimentos. Entendemos que as empresas não vão deixar de alugar espaços, pois precisam tocar as suas atividades e, por isso, a grande questão não é a escolha por uma locação fixa ou por um coworking e, sim, a retomada dos investimentos e do crescimento do Brasil. No mais, trata-se de um modelo que só vem para somar mais flexibilidade para o mercado.

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